Discreto e por vezes parecendo tímido, Manuel Serifo Nhamadjo, que
desempenhava o cargo de vice-presidente da Assembleia Popular Nacional,
era conhecido sobretudo pelos amantes do futebol por ter sido presidente
de dois clubes, o Benfica de Bissau e o Desportivo de Mansaba, e ainda
por ter passado pelo cargo de dirigente da federação de futebol.
Na política, porém, apesar de ser membro e dirigente do PAIGC
(Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder)
desde tenra idade, muitos guineenses desconhecem que Serifo Nhamadjo é
deputado desde a primeira vez que se realizaram eleições
multipartidárias no país, em 1994.
Foi sempre eleito deputado pelo PAIGC, partido com o qual se
incompatibilizou, ao ponto de se ter apresentado como candidato
independente às presidenciais de 18 de Março por discordar da forma como
Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro e líder do partido, foi
escolhido para ser o candidato oficial.
"O método não foi nem justo nem transparente, por isso decidi
apresentar-me directamente ao povo guineense para que diga quem pode ser o
melhor Presidente para o país", argumentava no dia em que anunciou a
sua candidatura.
Passada a primeira volta das presidenciais, perdeu a aposta. Carlos
Gomes Júnior ganhou a votação, o líder do PRS, Kumba Ialá, ficou em
segundo e Serifo Nhamadjo em terceiro, com 15 por cento.
Após terem sido conhecidos os resultados eleitorais, com outros
quatro candidatos derrotados, incluindo Kumba Ialá, contestou o
escrutínio alegando fraude eleitoral.
O golpe de Estado realizado no passado 12 de Abril voltou a colocá-lo
na rota do poder, tendo sido hoje indicado para o cargo de Presidente
da República interino, cargo anteriormente ocupado por Raimundo Pereira,
que se encontra detido, tal como Carlos Gomes Júnior.
Com fama de dialogante, Serifo Nhamadjo, que completou 54 anos no dia
25 de Março, elegeu "o combate aos males" que enfermam a sociedade
guineense como o seu principal adversário se vencesse o escrutínio de 18
de Março.
Nhamadjo assume-se como o herdeiro legítimo do legado político do
Presidente guineense Malam Bacai Sanhá, falecido em finais de Dezembro,
de quem diz pretender prosseguir a senda da pacificação e da
reconciliação. Aliás, até ao golpe, ele também era o presidente
executivo da comissão da reconciliação nacional, um processo que fora
patrocinado por Bacai Sanhá.
De etnia Fula, Manuel Serifo Nhamadjo é formado em contabilidade e
análise em Lisboa. Foi até há poucos dias presidente interino do
Parlamento guineense, substituindo o agora detido Raimundo Pereira.
O seu currículo diz que fala e escreve o português (muito bem), o
francês e o inglês dentro de um nível do quadro europeu de referência
(Cecr).
Homem de poucas falas, Nhamadjo, de confissão muçulmana, casado e
pai de cinco filhos, destacou-se também por ter sido dos primeiros
quadros do país a constituir uma empresa privada de construção civil, o
"Nô kumpu" que em português significa (construamos).
A empresa ainda fez algumas obras públicas no país, mas deixou de existir há muitos anos.
Lusa
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