sábado, 14 de abril de 2012

Quais as motivações dos militares guineenses?


Aos leitores que acompanham as notícias que estão a ser actualizadas, ao longo do dia de hoje, referentes à situação que infelizmente, mais uma vez, marca pela negativa a nossa tão querida Guiné, gostaria de saudar e manifestar a minha satisfação pelo facto de saber que estamos a ser lidos em quase todos os continentes.

Por isso mesmo gostaria de juntar a minha voz a do martirizado povo guineense e de partilhar a nossa preocupação, não somente quanto ao vergonhoso levantamento Militar de quinta-feira passada, como aos estranhos e não menos vergonhosos argumentos apresentados, para justificar esse acto de homens de armas.

Segundo um comunicado difundido pela Rádio Nacional da Guiné-Bissau, a única estação que na ocasião tinha sido autorizada a transmitir, os militares afirmam ter na sua posse um “documento secreto” do governo de Carlos Gomes Júnior mandatando as tropas da MISSANG (o destacamento de soldados angolanos cuja retirada do país foi decidida esta semana) para atacar os militares guineenses.

Nesse mesmo comunicado é adiantado que “O Comando não ambiciona o poder mas foi forçado a agir desta forma para se defender das investidas diplomáticas do governo guineense, que visa aniquilar as Forças Armadas da Guiné-Bissau através de forças estrangeiras”.

Ora, isso parece-me estranho pelo simples facto de um destacamento de cerca de 200 homens, dificilmente poderia enfrentar o exército de um país no seu próprio território. Para além de que a eventualidade de uma acção do género necessitaria da aprovação da Assembleia Nacional. O que seria quase que impossível, uma vez que poderiam, o Presidente Interino e o Ex Primeiro Ministro, (conforme o comunicado) estarem a preparar essa acção, mas outra seria, os dois homens convencerem os deputados a Assembleia em apoiar uma invasão com o seu próprio país.

Custa-me acreditar que esses dois homens estivessem tão ávidos do poder ao ponto esquecerem de  todas as normas nacionais e internacionais que os condenaria na primeira hora.

Por isso, as principais instâncias internacionais condenaram imediatamente esta tentativa de inversão de normas constitucionalmente instituídas na Guiné-Bissau. É bom que esses insurrectos saibam que estarão isolados nesta tresloucada acção e que o poder de armas não lhes dá o direito nem a legitimidade de afrontarem todo um povo. Se como dizem, não querem o poder, então que regressem o mais rápido às casernas, e deixem de lado a aventura de impor condições ou prazos, para a apresentação de propostas da constituição de um governo de unidade nacional.

A que propósito os nomes de governantes detidos não deveriam constar da proposta da constituição do novo governo, quando nada se referiu sobre os nomes de outros candidatos que concorreram à primeira volta das presidências de 18 de Março passado?

Como se entende que os Partidos da oposição política tenham condenado o golpe militar (pelo menos alguns deles) e ao mesmo tempo, louvado a atitude heróica das nossas forças armadas, de, segundo eles travar, a “tragédia de proporções incalculáveis, se o acordo secreto com forças estrangeiras fosse levado por diante"?

O que sabem alguns desses partidos que não nos querem dizer?

Aguardemos os próximos desenvolvimentos.

CPLP defende "força de interposição" para a Guiné-Bissau com aval da ONU


(Lusa) A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) decidiu esta noite "tomar a iniciativa" de propor "uma força de interposição para a Guiné-Bissau, com mandato definido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas".

Após a reunião extraordinária que se realizou hoje, na sede da CPLP,  em Lisboa, sobre a situação na Guiné-Bissau, onde ocorreu um golpe de Estado  na quinta-feira à noite, o chefe da diplomacia de Angola, país que preside  actualmente à organização lusófona, leu aos jornalistas a resolução aprovada,  sem direito a perguntas. 

No documento, a CPLP refere que a proposta de criação de uma "força  de interposição" será feita "em articulação com a CEDEAO  "Comunidade Económica  dos Países de África Ocidental", a União Africana e a União Europeia". 

Simultaneamente, a CPLP diz que será tida em conta "a experiência da  Missang no terreno", referindo-se à missão de apoio ao sector militar guineense  liderada por Angola, que ainda se encontra no terreno, mas cujo fim foi  anunciado por Luanda na segunda-feira passada.  

O documento não confirma a retirada da missão angolana, mas também não  diz que esta vai permanecer no país, referindo somente que apoia "o importante  papel desempenhado" pela Missang na Guiné-Bissau (...), "em prol da estabilização,  pacificação e reforma do sector de defesa e segurança". 

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